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segunda-feira, 29 de março de 2010

Ambientalismo - Inútil paisagem

Segunda, 29 de março de 2010 23:32 Autor: Carlos U. Pozzobon

Ler notícias dos jornais na seção de ecologia, meio-ambiente e similares é pedir para azedar os bofes. Não se entende como é que a imprensa responsável se dá ao desatino de publicar tantas leviandades na questão ambiental. Refiro-me à reportagem de João Domingos e Dida Sampaio em O Estado de São Paulo de 21/3/10, sob o título “Hidrelétricas destroem cachoeiras no Jalapão” (caderno Vida, pg A33 - Reportagem Especial – Ambiente em perigo). Os articulistas falam do rosário de centrais hidrelétricas de pequeno porte que foram construídas ao longo do rio Palmeiras no município de Dianópolis, cerca de 350 km a sudeste de Palmas, na entrada do Parque Estadual do Jalapão. Com algumas ainda em construção, a matéria focaliza a destruição das cachoeiras, uma vez que as centrais utilizam a diferença de altitude para canalizar a água até a casa de máquinas e dalí gerar energia elétrica. Como são centrais de pequeno porte (até 30 MW), estão amparadas por programas especiais do governo desde os anos 80, para eletrificação rural e atendimento a pequenas comunidades.

Só que o ambientalismo xiita não vê o benefício da eletricidade para a população. Como se fossem um dogma da natureza intocada, estas cachoeiras devem ficar como estão, na opinião deles, já que as hidrelétricas eliminam a queda d’água e isso impede a prática do rafting. Ou seja: o lazer de meia dúzia de fedelhos é mais importante que os benefícios da energia elétrica para a população, e isso é sequer ventilado no artigo.

Ao contrário, os jornalistas vão logo dar eco ao reclame de um dos prefeitos pelo fato das hidrelétricas não gerarem royalties para as prefeituras, numa clara confusão causada pelo pré-sal, onde a cultura rentista se associou em uníssono ao se achar com direitos aos royalties e a proclamar que o petróleo em alto mar pertence aos estados que lhe avisinham. “A legislação tem que mudar” diz na reportagem o prefeito de Dianópolis, José Salomão (PT). “Elas geram sérios problemas ambientais, pois mudam a topografia da região, desaparecem com as cachoeiras, impactam a vida dos ribeirinhos e não pagam nada por isso”.

Quer dizer então que se pagassem royalties tudo estaria resolvido? Como se pode garantir que a mudança na topografia da região significa uma piora ambiental e não uma melhora? Como afirmar categoricamente que a vida dos ribeirinhos piorou se um açude, uma calha d’água – para não falar da própria eletricidade que consomem – podem ser uma vantagem para os ribeirinhos relativamente ao estado anterior? A resposta é: na concepção do ambientalismo regressista dominante só é verdadeiramente ecológico aquilo que for mantido como a natureza criou. A mão do homem só se justifica se pagar impostos por um eufemismo chamado “compensações ambientais” que é o vale-tudo dos burocratas de Brasília. Aí então cessam todas as choradeiras, calam-se todos os protestos, acalmam-se todas as controvérsias.

Na cabeça desses ecologistas, existe uma sentença que é um primor de regressismo: ela se chama "passivo ambiental irreparável (ou decorrente)". Por esta expressão, entendemos o fato de uma hidrelétrica não ter pago compensações ambientais; mas, por lei, as PCHs (Pequenas Centrais Hidreléticas) não são obrigadas a pagar compensações ambientais. Já as grandes são obrigadas a fazer de uma só vez o que os governos não fizeram em 500 anos. Em Belo Monte, por exemplo, as licitantes estão obrigadas a construir uma cidade inteira para os ribeirinhos, além de postos de saúde, escola, estradas, o escambau. Tudo saindo do preço que os consumidores vão pagar pela energia. E os políticos em uníssono faturando encima de mais um curral eleitoral, com a cumplicidade da imprensa.

E isso não é tudo. A geração de energia elétrica que no passado foi vista como um imperativo do progresso, agora é uma geradora de problemas sociais “graves” (sic). Diz a reportagem que “durante a construção chegam pessoas de todos os lados, que pressionam principalmente os postos de saúde municipais. O prefeito conta que, depois de concluída a obra, a maioria dos trabalhadores vai embora, mas alguns ‘ficam por ali perambulando’, sem trabalho. ‘Também costuma ficar uma penca de meninas grávidas’ ", disse o prefeito à reportagem.

Quando o ambientalismo não era a tragédia ideológica em que se converteu, a construção de um empreendimento significava um grande progresso para o comércio e a indústria da região. Saudava-se a iniciativa como exemplo de desenvolvimento social e de atendimento às demandas da população, significando mais vendas no comércio e maior benefício para o município, com mais empregos e investimentos e com isso até mais impostos iam parar na tesouraria do município. Este era o raciocínio do passado. Bastaram 2 décadas de ambientalismo esquerdófilo para que a inversão se consumasse. Agora o desenvolvimento passou para a natureza das coisas descartáveis, desprezíveis ou invisíveis, tal como a eletricidade que nos sertões só era conhecida quando um raio chispava os céus, mas em compensação a barriga das “meninas” grávidas é algo atribuído à presença de trabalhadores indesejáveis e não à natureza social do país. Na verdade, esta mentalidade vem depauperando o nordeste desde sempre. Ali, os prefeitos não precisam do progresso, pois todo o foco está na onipotência das verbas federais e na taxação de tudo o que existe. A resposta para essa gente é a mesma que se deve constatar com o zelo que se imagina tenham os prefeitos com as estradas vicinais que levam para estas barragens: são o fim da picada.

Recentemente, em viagem ao sul do país, fui conhecer Nova Veneza, na região de Criciuma (SC). Um dos pontos turísticos era justamente uma represa localizada a 5 km da sede municipal. Anda-se 3 km em estrada de terra até chegar à barragem, por um caminho no meio do mato. Quando o visitante escalona o barranco de uma área pública de visitação, visualiza imenso lago com montanhas verdes ao fundo, constituindo um cartão postal de rara beleza e profundo encantamento. O lago humano (artificial) serve à população de diversos municípios, e a paisagem natural de mata virgem ao fundo torna inesquecível aos olhos aquela obra magnífica do homem e da natureza brasileira. Só mesmo uma tolice ideológica poderia pensar que a barragem seja algo nefasto à natureza e não uma complementação a ela. No fundo, no fundo, parece que esse ambientalismo enviesado carece de falta de estima pelas ações humanas.



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