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sexta-feira, 11 de março de 2022

CRETINISMO EM ALTA

Carlos U Pozzobon

Nada pode ser mais nocivo nestes momentos de epidemia e guerra do que o cretinismo intelectual.

Com uma psicologia própria para relativizar a gravidade daquilo que vemos cotidianamente à nossa volta, o cretino nos informa que a OTAN não pode ser inocentada na invasão russa da Ucrânia porque no passado — sempre tem o passado para usar como régua apaziguadora — invadiu a Líbia, bombardeou Montenegro e mais uma penca de países À DISPOSIÇÃO para minimizar o ataque russo. O relativista mal consegue perceber o ridículo em que se mete porque está fortemente escorado na rede de solidariedade que todo o idiota procura para legitimação pessoal de suas ideias.

E consegue: quanto mais idiota, maior é a prática de abaixo-assinados e declarações públicas de solidariedade contra alguém que procura criticar seus disparates. Um idiota nunca está sozinho.

E a União Europeia, então? Que autoridade tem aqueles países de intervirem em um conflito (ainda que sejam os acolhedores dos refugiados) de que eles mesmos participaram nos tempos coloniais?

O cretino tem uma dimensão intelectual de terra arrasada: se um país cometeu um crime, não importa o quanto de (r)evoluções tenha ocorrido, quantos governos diferentes tenha experimentado ao longo de sua história, que a mancha permanece para sempre.

A pobre Bélgica não pode piar por causa do rei Leopoldo. A Inglaterra tem um dívida histórica com a Índia. A França, nem falar, e a Alemanha, que é a maior socorrista da Europa, não é preciso citar a reputação que o cretino na maior cara de pau costuma evocar.

O argumento acusatório não é menos intimidante: se Putin matar um milhão de ucranianos sempre sobrará uma reserva moral para dizer que Hitler matou muito mais, e assim ficamos sabendo mais uma vez que Putin não é tão ruim como a maldita imprensa vem apregoando.

E o assunto não se restringe à guerra. O cretinismo está presente em todas as esferas da vida nacional.

Ainda hoje, justificando o aumento no preço dos combustíveis, uma recorrente autoridade dos emirados cariocas — aqueles que se alternam conforme o sultanato passa do poder da companheirada para o da milicada — disse que o preço da gasolina em outros países é ainda mais alto que no Brasil. Estamos salvos, portanto, de algo muito pior.

Não seria de perguntar à autoridade sultanesca se por acaso esses outros países também colocam 27% de etanol na mistura e ainda possuem parte considerável de seu petróleo extraído do próprio território com custos quase fixos que não representam ¼ do barril no mercado internacional hoje?

Não deveria ser o preço da gasolina uma razão da média aritmética ponderada de todos os fatores de custos? Afinal para que serve o pré-sal se nossos combustíveis estão ancorados no propalado Preço de Paridade Internacional?

É claro que a complexidade aumenta quando se sabe que a Petrobras não refina o que extrai do pré-sal porque suas refinarias estão sucateadas e incapacitadas de destilar nosso tipo de óleo. Mas e daí?

Ela não exporta justamente para equalizar a diferença entre o óleo importado e o próprio? Ou ela exporta apenas para benefício de si mesma? Não cabe nenhuma punição ao seu fracasso em benefício da nação?

Quanto mais se revolver a capa de cretinismo que tomou conta do país, mais difícil acreditar que uma saída eleitoral possa nos redimir da mentalidade distorcida que tomou conta de nossa gente.

Mas essa é a diferença que carregamos com a maldição de Samuel Huntington quando disse que a América Latina não pertence à civilização ocidental. Não pertence, digo eu, porque não pensa como o Ocidente. Vive redemoinhando nas vicissitudes de seu colapso intelectual.

[PS: se alguém deseja conhecer as ideias de Putin (e suspeito que parte do direcionamento de sua fortuna) reverberadas no Brasil, deve ler o artigo do MSIA. Me abstenho de criticar parágrafo por parágrafo o longo artigo. Menciono apenas que ali estão esboçadas as ideias que justificam a Ucrânia ser considerada uma nação composta por organizações nazistas, mais ou menos como se o Brasil fosse invadido e uma analista se dedicasse a explicar nossa estrutura política com as forças atuantes de organizações do crime organizado como o Comando Vermelho, o PCC, as milícias nas capitais e o MST no interior para justificar a invasão. Sabendo o que a Ucrânia passou nas mãos de Stálin no Holodomor e não perceber que os alemães de Hitler pudessem assumir o papel de libertadores, já não é mais uma questão de hipocrisia e cretinice: é delinquência intelectual mesmo.]


A Ucrânia e a Devoção Nazifascista Anglo-americana

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