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sexta-feira, 13 de novembro de 2020

AS SUTILEZAS E FUTILEZAS DO PRESIDENTE

Carlos U Pozzobon


O discurso do dia 10/11/20, apresentado como fala de Bolsonaro sobre a retomada do turismo, vale a pena ser analisado porque representa uma amostra de seu governo e de sua personalidade.

Em primeiro lugar, é a expressão sincera do candidato Bolsonaro. Em segundo lugar, porque é um discurso de plenário do Congresso e não de um chefe do executivo. Este tem sido o problema principal desde a posse.

Nos 19:17 min do discurso (link abaixo) ele abordou as seguintes situações:

0:39 seg: a situação das taxas de cobrança para turismo na ilha de Fernando de Noronha. Uma taxa estadual de diária de estadia e UMA TAXA FEDERAL para utilização da praia de R$110,00. Quando se pensa que o assunto é mera questão de uma portaria do ministro, ele fala que a eliminação da taxa depende do parlamento. Se ele acha que não pode eliminar por simples portaria do ministro do Meio Ambiente, a obrigação é de enfrentar o parlamento e não ficar se queixando como se fosse alguma coisa intransponível. E que tipo de enfrentamento ele poderia fazer? Primeiro, encaminhando via liderança a proposta para revogação. Ou, segundo, mandando Ricardo Salles assinar a portaria para causar repercussão e obrigar a sociedade política a se manifestar, como se espera do papel do presidente de colocar o parlamento contra a parede. Alguém duvida que a maioria do parlamento vai apoiar uma taxa que bloqueia o uso de praia num esfola turista ultrajante?

2:33 mim: ele passa para a questão do Jet Ski. Novamente o diagnóstico é certo, mas e a ação? A habilitação para dirigir um Jet Ski se tornou um emaranhado burocrático a partir do momento em que um atropelamento matou um banhista em alguma praia do país. Em vez de mandar a Marinha (ou qualquer auxiliar de gabinete) desfazer esta desfaçatez, promete resolver o problema no ano que vem. É patético.

4:12 min: trata do caso que vem falando desde o início do mandato. A exploração do turismo na baía de Angra. Em viagem internacional recebeu proposta de investimento de U$ 1 bi para transformar Angra numa réplica de Cancún. Para viabilizar o empreendimento afirma que seria necessária a revogação de um decreto. E quem revoga? O Congresso. E qual a iniciativa do governo de provocar o Congresso com ação? A descoberta de que não tem CLIMA no Congresso. Ele prefere render-se à parolagem.

6:39 min. aproveita o discurso para falar do cartão corporativo da presidência. Fiquemos sabendo que são 3. O dele, não gasta nada. Nem para comprar cerveja, podendo gastar 29 mil por mês. Seu exemplo tem o papel de exaltar a edificante mensagem de uma cerveja ser bebida como despesa de um cartão e não de outro.

7:38 min: a morte de pássaros inviabilizou o uso de torres de energia eólica em Fernando de Noronha. Este assunto venho comentando desde os tempos da Dilma. No entanto, ele está certo. É um absurdo a alternativa usada através de um gerador termoelétrico, que sequer cumpre as necessidades das pousadas da ilha. Mais uma boa briga para ganhar popularidade enfrentando a irracionalidade ambiental. Novamente a Marinha poderia entrar na briga. Mas nada acontece além dos resmungos de um candidato, lamentando a oposição ambientalista como se fosse imexível.

A partir do oitavo minuto sucede uma miscelânea de comentários fora do meio ambiente, como o enfrentamento da Covid, com o argumento repetido pelo bolsonarismo midiático com salivante prazer mórbido de duas ou três prisões por guardas municipais (!) de pessoas que desrespeitaram o isolamento social, atrocidade essa que qualifica bem seus inimigos políticos como um calamitoso perigo de volta da esquerda, principalmente quando se observa a situação na Argentina, etc.

13:16 min: por fim, a solução (?) consiste na sociedade apoiar o governo para imprimir as mudanças necessárias. Contesta o discurso de ódio, dizendo que é coisa de marica. Fala da inevitabilidade da morte e novamente da ameaça que nos cerca, agora também da Bolívia. Chega ao fim insistindo não existir outro líder em 2 anos capaz de assumir os problemas do país, a menos que entre muita grana, exceto naturalmente ele, que não soube como enfrentar os problemas brasileiros nos primeiros dois anos, mas garante que é o homem providencial para retornar ao poder nos próximos dois anos seguintes. Em tom eloquente confessa que passou 28 anos no Congresso pensando em ter a oportunidade de mudar o Brasil. E termina a peroração pedindo para ser ajudado. Não se sabe que tipo de ajuda, além do voto, ele se refere ao comum dos mortais.

Discurso de 10/11/20