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quinta-feira, 11 de junho de 2020

Os fastidiosos antifas

Carlos U Pozzobon


Nossa inigualável capacidade de imitação trouxe ao Brasil um movimento que vem, há alguns anos, sendo o pilar de mobilização de passeatas de protesto nos EUA.

Os antifas anunciam-se defensores de uma liberdade que coloca a luta contra o racismo apontada para a sociedade e não contra os indivíduos racistas. Curiosamente, acreditam que uma ação policial, como a que levou a morte George Floyd, seja um sinal inequívoco de que a sociedade é racista e a única forma de contê-la consiste na revisão histórica de seus atos e nos atores que fizeram essa história.

Olhando para as estátuas que se atrevem a permanecer no pedestal das celebridades passadas, declaram guerra a todos quantos tiveram no passado algum vínculo com a escravidão. E se juntam em grupos enfurecidos para arrancá-las acreditando destruir a lembrança que invocam por ser de louvação demeritória.

Não se trata da crítica histórica, mas de recusar a própria história. Todo o passado humano foi permeado pela escravidão, que não era racial, mas de conquista. A escravidão era tão comum no passado que vai da narrativa de Heródoto a Nabuco, e o fato do primeiro viver nela não desmerece o que fez.

A atitude dos antifas são uma réplica da revolução cultural inaugurada pelo maoismo, quando se perseguiam pessoas com um passado proeminente porque tinham méritos adquiridos no regime que derrubaram, e na agitação sectária voltaram-se para eliminá-las na certeza que livrariam as gerações futuras das influências do passado odioso.

Se o movimento antirracista for organizado para se tornar uma tendência mundial, muita coisa se pode dizer sobre o que virá, e da conhecida experiência de tolerância das instituições com idiotas em passeata, em pouco tempo teremos um tribunal de “escolhidos” para fazer julgamentos históricos e preparar os espíritos para a louvação de personalidades nada condizentes com a atitude ética que se espera de um cidadão.

Os movimentos de rua precisam aumentar urgentemente seus conhecimentos do que sejam a escravidão moderna, que não é mais baseada na cor da pele, mas na forma de inserção do indivíduo na sociedade. Sociedades onde o apartheid social foi imposto como privilégio de uma pequena parte sobre a maioria representa o verdadeiro racismo do século XXI, não fosse as viseiras da ignorância impedirem esses grupos de enxergar a verdade.

Indivíduos de mesma raça ou nacionalidade exploram seus cidadãos de forma pior do que se escravos fossem. E tudo fica por isso mesmo, tapeado pelo dar de ombros para o real. Os haitianos são explorados por pessoas da mesma cor, tanto quanto os brasileiros. Se quiserem se engajar em um movimento antidiscriminatório, esses manifestantes deveriam parar para pensar um pouco mais na organização social e um pouco menos na origem racial dos injustiçados.